A designer Sandra Arruda lança a sua nova coleção têxtil “O Art Déco e as Paisagens do Sertão” na Galeria Metrópole, durante a 14ª edição do DW! Semana de Design de São Paulo 2025, que acontece entre 10 e 16 de março. O lançamento seguirá até o dia 23 de março.
“O Art Déco e as Paisagens do Sertão” | Imagens fotografadas na Biblioteca Mário de Andrade | Crédito Leo Martins
A coleção nasce do diálogo entre a arquitetura nordestina, o movimento Art Déco e a ancestralidade. Sandra Arruda interpreta e ressignifica a estética do sertão e suas icônicas platibandas, faixas verticais que emolduram as fachadas e ocultam os telhados das casas, um dos traços mais marcantes desse estilo arquitetônico na região, elevando esses elementos a novas superfícies têxteis, onde história, forma e textura se encontram.
Inspirada pelo livro Pinturas e Platibandas, da fotógrafa Anna Mariani, e pelos estudos da professora Lia Monica Rossi sobre o Art Déco sertanejo, Sandra transforma geometria, cor e materialidade em uma arquitetura têxtil.
Jacquards e estampados sobre linho e algodão | Crédito Leo Martins
O projeto explora composições gráficas e paletas que evocam a essência do sertão, indo além da imagem tradicional de aridez para revelar sua riqueza simbólica. Tons como Amora, Azul Noite, Canário, Caramelo, Cedro, Fog, Folha, Gema, Negro e Telha refletem o contraste entre luz e sombra, presentes nas paisagens sertanejas. A paleta cromática não apenas preserva referências visuais que atravessam gerações, mas também reafirma a potência criativa da cultura nordestina.
Os padrões desenvolvidos partem da geometria e do ritmo visual do sertão. As platibandas inspiram composições lineares que estruturam as superfícies têxteis, enquanto fachadas e listras dialogam com a repetição e a simetria. Árvores solitárias recortam a paisagem, criando contrastes orgânicos, e o horizonte infinito se desdobra em formas que traduzem a vastidão e a poética sertaneja.
As texturas dos tecidos evocam as superfícies das casas, ora refletindo a uniformidade das fachadas caiadas, ora marcadas pelo desgaste do tempo. Essa dualidade entre permanência e transformação encontra eco nas estampas sobre linho e algodão e nos jacquards mistos, em viscose e algodão.
A composição rítmica dos padrões, a linearidade marcante e a estilização das formas ecoam os fundamentos do Art Déco, um dos movimentos mais emblemáticos da modernidade.
Jacquards | Crédito Leo Martins
O Art Déco surgiu na Europa no início do século XX, tornando-se um dos movimentos estéticos mais marcantes da modernidade. Popularizado após a Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes de 1925, em Paris, o estilo se destacou pelo uso de formas geométricas, simetria e padrões estilizados, além da busca por um design refinado e adaptável à era industrial. Sua influência atravessou fronteiras, chegando ao Brasil entre as décadas de 1920 e 1930, deixando sua marca na arquitetura de edifícios urbanos e espaços públicos.
No Nordeste, o movimento assumiu uma identidade própria nas platibandas e fachadas de pequenas cidades, onde sua geometria foi reinterpretada com materiais simples, como alvenaria caiada e pigmentos naturais. Essa apropriação popular do movimento deu ao Art Déco sertanejo um caráter autêntico, transformando-o em um marco cultural e estético de grande relevância.
Imagens fotografadas na Biblioteca Mário de Andrade | Crédito Leo Martins
Para Sandra, esse repertório visual vai além da estética, é um fio condutor com suas raízes. Sua relação com o sertão não se limita à pesquisa iconográfica, mas se manifesta como um retorno à ancestralidade, pois seus avós eram pernambucanos. Em viagens recentes a pequenas cidades sertanejas, a designer reconheceu que aqueles cenários pertenciam a um lugar íntimo de sua memória, mesmo sem ter conhecido diretamente seus antepassados. A vastidão da paisagem e a arquitetura peculiar despertaram memórias silenciosas, conduzindo a designer a um reencontro intuitivo com suas origens.
Com essa abordagem, Arruda propõe um novo olhar sobre a brasilidade no design têxtil, celebrando uma área do design que por muito tempo permaneceu à margem das narrativas estéticas contemporâneas. Como bem disse Pietro Maria Bardi, um dos grandes historiadores do design no Brasil: “O passado recente é o mais difícil de preservar; não é suficientemente velho para ser valorizado nem suficientemente novo para ser mantido.”
Em sua segunda coleção têxtil, a designer dá continuidade à trajetória iniciada com Brasilidade (2019). Agora, seu olhar sensível e pesquisador revisita a tradição nordestina e sua inventividade visual, transformando-as em superfícies que contam histórias.
A coleção conta com o apoio e produção têxtil da Beraldin Tecidos, reforçando o compromisso com a excelência na fabricação e a valorização dos materiais. A parceria permite explorar texturas e acabamentos sofisticados, alinhados à riqueza conceitual do projeto.
Tecendo conexões entre design, arte e materialidade, Sandra Arruda constrói narrativas visuais que ampliam a percepção sobre a identidade brasileira, transcendendo suportes – da cerâmica ao mobiliário, da estampa ao tecido.
SERVIÇO
SANDRA ARRUDA APRESENTA “O Art Déco e as Paisagens do Sertão”
Lançamento da coleção têxtil durante o DW! 2025
Data: 10 a 23 de março
Horário: Segunda a domingo, das 10h às 19h
Local: Galeria Metrópole – Av. São Luís, 187, Loja 5 – São Paulo, SP
SOBRE SANDRA ARRUDA
Designer, ceramista e pós-graduada em Gestão de Design pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Sandra Arruda constrói uma trajetória marcada pela pesquisa e experimentação em diversas linguagens. Desde 1980, dedica-se à cerâmica, desenvolvendo coleções anuais para a Dpot Objeto, com peças que integram o acervo do Hotel Fasano São Paulo.
Sua incursão no design começou em 1984, e desde então, lançou coleções que transitam entre arte, teatro e gastronomia, como “Brasilidade” no Fuorisalone – Milão (2013), “A Arte de Comer com os Olhos” no Museu Belas Artes – SP (2015) e “O Design Visita o Teatro” no Teatro São Pedro – SP (2019).
Ao longo de sua carreira, Sandra ampliou suas áreas de atuação, tornando-se uma referência no design brasileiro. No setor de mobiliário, desenvolveu peças para as indústrias Butzke e Verona. No design têxtil, assinou a coleção “Brasilidade” em parceria com a Tramare Tecidos. Fundadora da marca Peça Única Mobília, consolidou sua presença no mercado por 38 anos com um espaço físico no Shopping D&D, em São Paulo. Atualmente, a marca se adapta às novas dinâmicas do setor, operando exclusivamente no formato online.
Desde 2014, Sandra representa as empresas italianas Oikos e Barausse, aprofundando seu envolvimento com a cultura do design italiano. Paralelamente, atua como consultora em projetos para grandes instituições e marcas, entre elas Fundação Roberto Marinho, Hotelaria Accor, Belmond Copacabana Palace e Etel Design, contribuindo com sua visão sofisticada e seu olhar sensível para a materialidade.
Em junho de 2023, inaugurou um espaço expositivo na Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, dedicado à sua produção mais recente. O local abriga a série Cavaletes (2023), a escultura Colmeia e sua coleção de cerâmicas inspiradas na técnica Kintsugi, reafirmando sua busca por ressignificar a produção em série. Em 2024, Sandra expande sua presença no cenário internacional ao participar do Paris Design Week com a escultura Colmeia, um marco em sua trajetória que reflete sua constante experimentação e reinvenção no universo do design e da arte.
Além disso, Sandra Arruda tem impulsionado ações culturais em seu estúdio na Galeria Metrópole, consolidando o espaço como um ponto de encontro para debates sobre design, arquitetura e patrimônio urbano. No início de 2025, organizou um bate-papo com o arquiteto e historiador José Eduardo de Assis Lefèvre, explorando a transformação da Avenida São Luiz e sua relevância para a cidade de São Paulo. Dando continuidade a essa iniciativa, promove em março uma nova conversa com Ale Salles, do Estúdio Tarimba, reforçando o compromisso com a troca de ideias e a valorização do centro histórico da cidade. O espaço reafirma seu compromisso com a valorização do design brasileiro e com a ressignificação do centro urbano como território de inovação e resistência.
SOBRE BERALDIN TECIDOS
Do encontro entre matérias-primas 100% naturais e os melhores artesãos do Brasil nascem os produtos da Empório Beraldin. Sustentabilidade, de fato, faz parte do DNA da marca criada em 1994 com o propósito de oferecer conforto e bem-estar aos seus clientes, além de deixar um legado memorável. Pioneiros em aproveitamento de materiais, pesquisas e desenvolvimento de novas texturas, insumos e revestimentos naturais, a alma da Beraldin transpassa décadas, modismos e tecnologias ajudando a criar, com um time de designers especializados, o futuro da decoração.
By Renata Sherman
Foto: Leo Martins
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