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Último decreto de Trump impacta arquitetura

Antes de deixar o cargo, o ex-presidente dos EUA emite nota executiva para que edifícios federais sigam o estilo clássico e proíbe o brutalismo

Há poucos meses o mundo estava com os olhos voltados para as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América. A disputa entre Donald Trump, o então atual presidente, e Joe Bidem, que acabou vencendo o pleito, foi marcado por acusações, contestações e protestos. Em meio a todas essas discussões, Trump emitiu uma nota executiva, no apagar das luzes, que causou uma certa polêmica e descontentamento entre os profissionais de arquitetura e urbanismo. De acordo com a nova lei, que foi batizada de “Making Federal Buildings Beautiful Again” (Fazendo os prédios americanos serem bonitos outra vez), os novos edifícios federais devem ser construídos, obrigatoriamente, no estilo clássico. O Instituto Americano de Arquitetos publicou uma nota no Twitter contra a medida do governo dizendo que “O AIA se opõe fortemente a mandatos de estilos uniforme para a arquitetura federal. Ela deve ser projetada para as comunidades específicas a que serve, refletindo os diversos lugares, pensamentos, culturas e climas da nossa nação rica. Os arquitetos estão comprometidos em honrar nosso passado e em refletir nosso progresso futuro, protegendo a liberdade de pensamento e expressão que são essenciais para a democracia”.

Não bastasse limitar a criatividade dos profissionais a um só estilo, o decreto deixa claro que os arquitetos não poderão usar, de forma alguma, o Brutalismo nas construções, estilo que surgiu no final da Segunda Guerra Mundial e que prioriza a funcionalidade e não a estética das edificações.  Segundo o arquiteto Henrique Hoffman, da Painel Arquitetos Associados, o nome não veio do termo “brutal” e sim de “béton brut”, que significa “concreto em francês. “Com a inovação do sistema industrial de produção e fabricação, o concreto ganhou espaço no mercado – que além de barato, podia ser produzido em larga escala e de forma modular” explicou o arquiteto.

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Foram os arquitetos Alison e Peter Smithson que, na década de 50, deram início a esse estilo, movidos pelo idealismo e pela tecnologia, aproximando o design e planejamento urbano e usado amplamente em construções de teor social, como em escolas, hospitais, bibliotecas, prédios governamentais e conjuntos habitacionais. “Apesar do intuito de expressar o otimismo pós-guerra, não tinham o objetivo de agradar: o impacto é causado pelo respeito e não pelo afeto, sendo caracterizado por sua rispidez, formas inusitadas e por sua materialidade de aspecto pesado” disse Henrique.

O interessante, ressalta o arquiteto, é que o Brutalismo caiu em desuso no início da década de 70 devido aos altos custos para manter sua estrutura em boas condições, apesar de sua produção ser relativamente fácil, e mesmo assim o ex-presidente Trump vetou qualquer possibilidade do estilo à tona por pura questão ideológica. “A simbologia que o Brutalismo carrega, de uma arquitetura feita para servir, imediatista e de apego social, foi muitas vezes enquadrada em sistemas socialistas, que é oposta a política de Trump. É natural que queira que quaisquer resquícios desta ideologia não sejam assimilados ao país que governava”.

De acordo com o ex-presidente, as novas construções passarão por um comitê onde seus conceitos devem ter apelo público e a quem faz uso das mesmas, sendo fundamental a participação da sociedade leiga, excluindo da produção e criação os pertencentes do meio artístico, arquitetos, engenheiros e críticos da área. “A inserção de leigos é interessante e importante, desde que não se desfaça daqueles que dedicam seus anos de vida e carreira em estudos e embasamentos na área, afinal, eles também pertencem à sociedade que desfruta do meio urbano. Ao recorrer ao público, leigos ou não, o ex-presidente se sujeita àqueles que podem ainda admirar o movimento brutalista”, concluiu Henrique.

 

 

Por Ana Horta

Imagem: Divulgação

 

 

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