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​Obras de Meyer Filho integram a exposição que revisa a história da Arte Moderna no Brasil

“Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil” escancara a diversidade de produção do país e joga luz às narrativas dos muitos “Brasis” pensados e produzidos por artistas de norte a sul do extenso território, durante o período Moderno. Mostra será aberta a partir desta quarta-feira (16), no SESC São Paulo, na Unidade 24 de Maio

 

Muito além da hegemonia do eixo Rio-São Paulo, o Brasil é um país de dimensão continental e ainda pouca representatividade do seu múltiplo protagonismo cultural. No ano em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo, realizada em 1922, e também o bicentenário da Independência (1822), uma iniciativa derruba as fronteiras até então delimitadas como território único e legítimo do período da Arte Moderna nacional.

 

O projeto Diversos 22: Projetos, Memórias, Conexões, idealizado pelo SESC São Paulo, traz à tona o debate crítico e escancara a produção artística de diversas/os artistas brasileiros/as do período Moderno, em geografias diversas no mapa. São 600 obras de 200 nomes distintos e, talvez, ainda poucos conhecidos e reconhecidos, que vão ocupar a Unidade 24 de Maio na exposição intitulada: “Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil”. A mostra ocorre de 16 de fevereiro até 07 de agosto, no endereço.

 

“O objetivo do projeto é não naturalizar a arte paulistana como sinônimo de Arte Moderna Brasileira. E para isso trazemos imagens, referências, obras, perspectivas, presenças, nomes, vozes, corpos de diversos outros lugares do Brasil, que estavam igualmente desenvolvendo uma agenda moderna para a arte. E são, portanto, capazes de nos defrontar com o fato de que nenhum projeto moderno, seja ele de São Paulo ou Roraima, é capaz de dar conta da radical complexidade de que é o Brasil. Seja o Brasil moderno, seja o Brasil contemporâneo”, explica Clarissa Diniz, curadora da exposição junto com Aldrin Figueiredo, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos e Raphael Fonseca.

 

Segundo Diniz, a seleção dos trabalhos foi feita em muitos meses de troca e de debate entre todos os curadores. Pouco a pouco, o grupo foi tateando, circunscrevendo a lista de artistas. Dos 200 escolhidos, os catarinenses Ernesto Meyer Filho e Franklin Cascaes estão presentes na relação e na exposição que vai reunir e apresentar pela primeira vez aos/às brasileiros/as os/as protagonistas invisíveis até agora nas páginas da história.

 

“A gente começou com conversas mais abertas sobre questões que entendemos como muito importantes e pungentes para o resto do Brasil. Em termos de debate sobre modernidade e que não estavam contemplados, todavia, nessa agenda eminentemente paulistana que virou uma espécie de marco da Arte Moderna no Brasil. Evocamos os nomes desses artistas e cruzando essas presenças de modo transregional. Trata-se de um exercício de fiscalização histórica, de inventar e perceber ao mesmo tempo, essas possíveis aproximações entre pessoas, entre corpos que estavam distantes no espaço, em lugares e décadas diferentes. Mas quando reunidos, nos mostram outros interesses, outros assuntos de verdade, outras perspectivas sobre o Brasil e o que chamamos de Arte Moderna Brasileira”.

 

O lugar de Meyer na história da Arte Moderna

 

O legado de Meyer já era conhecido dos curadores Clarissa Diniz e Raphael Fonseca. Clarissa está envolvida com o centenário do artista catarinense, celebrado também este ano, e assina um dos textos que compõem o livro comemorativo. Do acervo produzido pelo artista entre as décadas de 1940 a 1980, uma série de cinco desenhos do Boi de mamão datados dos anos de 1951 e 1954 e quatro imagens de Aves e Galos (1960) entraram para a exposição.

 

“Ele é um artista que nos interessa desde o princípio do projeto, inclusive por saber que ao longo da trajetória ele tensionou essas circunscrições geopolíticas da prática artística. Foi um artista que teve muita consciência de que questões geopolíticas informam a produção artística e, principalmente, informam a sua legitimação, a sua circulação, a sua valorização”, explica Clarissa.

 

Meyer em camadas profundas

 

A contribuição de Meyer para esta ampla leitura da Arte Moderna no Brasil é fundamental. Clarissa afirma que o artista traz muitos aspectos à exposição. Primeiro pelo fato de pertencer à classe trabalhadora. O artista, bancário e cidadão – como ele se definia – vai insistir na ideia de que artistas são trabalhadores.

 

“Ele passa os anos 1950 muito preocupado na representação dos trabalhadores, mas não vai representar esses trabalhadores pela ótica da precariedade, do sofrimento, da marginalidade. O que foi muito comum em certa representação deste protocolo socialista da arte brasileira. Nem faz essa coisa do trabalhador fetichizado, esse homem forte, quase sempre negro, transformado numa espécie de herói nacional”, contextualiza.

 

Segundo Clarissa, Meyer vai mostrar um trabalhador que faz festa, que dança, que é violento no rito, que elabora os conflitos sociais numa violência ritual. “Na série do Boi de Mamão, ele se concentra em momentos de violência. É um artista que refuta a docilização, a idealização, uma versão harmoniosa e dócil que é a ideia de folclore que estava ali sendo inventada, legitimada, disputada neste tempo. Ele evita essas abordagens idílicas, doces, enfim, que pensa a cultura popular como lugar de beleza e poesia somente”, questiona.

 

Os Galos de Meyer abrem brechas para muitos significados. Clarissa posiciona a série do Galo num momento de ambivalência da exposição. De um lado: a beleza ornamental, estonteante, profundamente adornada. Do outro: a admissão da violência.

 

“Mesmo da admissão fálica do Galo, entre a admissão libidinosa e a violência da rinha de Galo, da domesticação forçada, das esporas. Toda essa experiência social que o Brasil acumula em torno do Galo. Meyer está nesses dois momentos, que contam para gente desse artista que diferentemente de grande parte dos artistas ditos modernistas no Brasil, não veio da aristocracia, não é herdeiro de latifundiários do café, não é das elites sociais. É da classe trabalhadora, se estabelece como bancário artista o tempo todo. O tempo todo discute a ideia de arte como trabalho e, por isso mesmo, também não fetichiza a vida da classe trabalhadora brasileira. Vai olhar para o que ela tem de belo e o que ela tem de violento. O que ela tem de tradição cultural, mas também o que ela tem de resistência política, social. Pra gente configura uma agenda moderna inigualável que não deixaria de estar na exposição”, complementa.

 

As obras que compõem o espaço expositivo, com cerca de 1.300m², foram cedidas por mais de 100 instituições e colecionadores brasileiros, entre eles a Pinacoteca do Amazonas, o Mamam de Recife, o Museu Nacional de Belas Artes, o MAC da USP, o MAR-RJ, Masp, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Museu de Arte de Belém, Museu Antropológico da UFG, Museu de Arte da UFSC e o Instituto Meyer Filho.

 

No espaço expositivo da unidade 24 de Maio serão oferecidas, ainda, atividades em ambiente virtual e ações educativas presenciais com arte-educadoras/es e pesquisadoras/es que estão em constante diálogo com as produções artísticas brasileiras.  A mostra contará com recursos de acessibilidade, como audiodescrição, vídeoguia em libras, recursos táteis e textos traduzidos para os idiomas português, inglês e espanhol.

 

Serviço Exposição Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil

Curadoria: Aldrin Figueiredo, Clarissa Diniz, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos e Raphael Fonseca

Curadoria-geral: Raphael Fonseca

Curadores-assistentes: Breno de Faria, Ludimilla Fonseca e Renato Menezes

Consultoria: Fernanda Pitta

Local: Sesc 24 de Maio – 5º andar – Rua 24 de Maio, 109 – Centro/SP – 350 metros da estação República do metrô

Período expositivo: 16/02 a 07/08/2022

Funcionamento da unidade: terça a sábado, das 10h às 20h.

Domingo e feriado, das 10h às 18h*

*os horários de funcionamento podem sofrer alterações, conforme orientações sanitárias vigentes. Maiores de 12 anos deverão apresentar comprovante de vacinação contra COVID-19 (físico ou digital), evidenciando as duas doses, ou dose única.

Agendamento de grupos: agendamento.24demaio@sescsp.org.br

Classificação indicativa: livre Gratuito

By Luciana de Moraes

Imagem: divulgação

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