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Vida e cores de um certo mineiro

Nascido em Tupaciguara – de origem tupi, significa “Terra da mãe de Deus” – o artista plástico José Gonçalves Júnior, mais conhecido com J. Mangabeira, que comemora seus 15 anos de carreira, compartilha conosco todo seu entusiasmo em viver, e vai muito além de suas telas. Conheça mais sobre sua vida, obras e conviver em nosso bate-papo com esse talento que, aos 54 anos, preserva sua alma e coração de menino.

 

Revista USE: Existe um melhor horário, dia ou período para suas criações?

  1. Mangabeira: O relógio não me limita. Tem dias que eu não faço nada, estou travado. Mas tem dias que eu pinto de maneira explosiva. Agora, o melhor é a catarse. A hora que você termina. Eu olho para a tela e pergunto “foi bom para você?” (risos).

 

R U: Suas obras possuem características específicas como, por exemplo, a combinação entre cores suaves e detalhes em cores vivas e vibrantes. O que espera transmitir com sua arte?

J M: Você pode observar que toda tela minha tem um círculo disfarçado. Eu adotei o círculo. Porque ele não tem começo e nem fim. Representa o infinito, e a nossa vida tem infinitas possibilidades. Outra mensagem que eu passo nas minhas obras, é que tudo tem uma janela. O que são janelas? São pontos de fuga. Por pior que seja a vida, por pior que seja a situação, há sempre uma saída. Você sempre vai ver um ponto de fuga na minha obra.

 

R U: Como e quando você se descobriu artista plástico?

J M: Desde os meus 12, 13 anos eu trabalho com as mãos e com criatividade. Minha primeira casa, eu comprei fazendo sandálias trançadas. Eu fui criado na fazenda, em roça e eu tinha aquela coisa de ver a cor da palha de milho – você já viu que bege mais lindo? A inspiração do pôr do sol, que cores! Já parou para imaginar quantos tons de verde existem em uma árvore? Isso ia me fascinando e eu sentia necessidade de reproduzir de alguma forma. E consegui!

 

R U: Qual a sua cor preferida?

J M: Amarelo. E eu uso pouco, mas é minha cor.

 

R U: Quando desenvolveu sua primeira tela?

J M: Em 2001 pintei minha primeira tela. Era um peão, de criança. Gastei 15 minutos para vender, depois que acabei. Mas eu também fui professor de cursinho por mais de 20 anos, e para descansar dessa minha rotina, que era de segunda à segunda, eu peguei uma parte do dia para fazer o que eu queria, que era pintar.

 

R U: Seus primeiros quadros foram pintados a partir das técnicas de pátina. Ao longo dos anos, que outras técnicas você desenvolveu e passou a utilizar em suas obras?

J M: Óleo sobre tela. A minha pintura é muito eclética, porque eu gosto da mistura de elementos. Eu trabalho com tinta, ferro moído, materiais que as pessoas normalmente não utilizam. Porque eu gosto desse encontro da criação, da construção da obra, e tem também a arte digital.

 

R U: Como você se descreve enquanto artista?

J M: Contemporâneo e com traços de primitivismo. Pois quando eu exploro tonalidades, estou trabalhando o subconsciente das pessoas.

 

R U: Quais são suas referências artísticas?

J M: Tudo que é belo, todo artista que pinta algo bonito é uma referência. Se eu falar de um artista em especial, eu estarei ferindo outros. Mas posso dizer que tenho admiração por Giovana Osmarini, que é uma artista da minha região e trabalha com um vermelho perfeito. Só ela tem aquele vermelho!. E também, Ezio Monari, que pinta arte sacra no cubismo.

 

R U: Quais são as temáticas mais exploradas em suas telas? Por quê?

J M: Horizontes. Fico feliz ao pintá-los.

 

R U: E agora, fora da vida artística, qual foi o seu ponto alto?

J M: Foram dois momentos. O nascimento da Laís e da Maria Júlia, minhas filhas.

 

R U: Quais são os seus planos, seus anseios? Você pensa nisso?

J M: Não sei, não parei para pensar nisso não. Eu acho que eu sou mais “carpe diem”. A gente tem que viver a vida, viver o momento. Dizer para as pessoas que as ama. Eu pego minhas netinhas no colo e digo “eu te amo demais, você é muito importante para mim”. Porque eu vou pensar no futuro? Então, se eu me preocupar com o hoje, amar e viver intensamente e sempre dizer para as pessoas que as amo… Isso não tem preço! (…) Eu odeio piscina, mas minhas netas me fazem nadar com elas todos os dias. Isso é amor, do mais puro!

 

R U: Você tem suas obras na sua casa?

J M: Tenho. Minha morada é uma casa-galeria.

 

R U: Já aconteceu de você pintar uma tela e não ficar satisfeito?

J M: Já, muitas vezes. E chega alguém e fala ”é a tela da minha vida”. E as que eu amo de paixão, às vezes não acontece. Porque a tela é muito pessoal, cada um tem uma vibração nela. E tem aquelas comuns, que todo mundo ama. Não tem uma regra.

 

R U: O que a arte te traz?

J M: Superação, pois quando você consegue provocar um sentimento em alguém que aprecia o que você faz, você está superando a si mesmo. E ao mesmo tempo, você está ampliando seu processo de criação.

 

R U: Sua família trabalha com você. Como isso começou?

J M: A minha esposa também é artista plástica, eu comecei por ela. Ela sempre fez trabalhos manuais. E eu, quando estava corrigindo provas e preparando aula do cursinho, a via trabalhando e chegou uma hora em que meu lado artístico explodiu. Na verdade, eu acho que ela foi a gota d’água que faltava. As filhas foram apreciando o trabalho e, como nós fazemos tudo em família, ficaram cada dia mais envolvidas. E, à medida que foram casando, os genros também foram nos acompanhando.

 

R U: E para finalizar, nos parece que em sua casa mora a alegria, não é mesmo?

J M: Sim, minha casa é vibrante! Eu fiz a minha casa de tal modo, que em um andar mora uma filha, no outro mora a outra, em cima é um espaço gourmet e embaixo outro espaço com piscina, e a minha oficina fica para o outro lado da rua, tudo junto. Eu estou ali pintando e escutando minhas netas na piscina. Eu paro de trabalhar, largo tudo, vou lá e tomo um banho de piscina com elas.

 

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