Grandes desafios do mundo afetam o modo de viver de todos os seres no curto, médio e longo prazo. A busca por liberdade e de novas experiências através da cultura, paisagens, gastronomia, lazer, qualidade de vida, interação e formação de novos grupos sociais, entre outros desejos intrínsecos dos seres humanos, nos traz novas reflexões do presente e futuro das construções. Neste quesito, um novo objetivo e planejamento são peças-chave para que o mundo possa se tornar cada vez melhor.
Quando analisamos o que já foi construído, vemos que em muitas situações torna-se necessário adaptar, reformar,e ajustar levando em consideração os processos históricos, demandas contemporâneas e tendências futuras para que aquele empreendimento; seja ele uma cidade, um arranha-céu, uma casa, parque ou estádio, seja eficiente,ecologicamente correto, e possa trazer mais que memórias felizes para seus usuários: tornar-se um fator demudanças reais, e sobretudo decisivas em prol da vida em abundância do planeta.
QUEM PARTICIPA
Entretanto, para que isso ocorra, é preciso que uma variedade de stakeholders estejam envolvidos dinamicamente desde a concepção do projeto e em toda execução, para que ocorram discussões saudáveis e evolutivas. Empresas,ONGs, governos, universidades, e especialmente os cidadãos, criando reflexões sobre o empreendimento de forma concreta, prioritariamente em smart cities, pois são estas pessoas e seus descendentes que usufruirão dessas benesses, das quais, percebendo que fazem parte desta nova realidade, desenvolverão comportamento positivo,preservando, divulgando, investindo ou simplesmente contemplando. Esta formação, costumo chamar decomunidade inteligente, interativa e focada em espaços geniais e sensatos.
O QUE MUDOU
Neste contexto, a aceleração da tecnologia visto as novas regras de sobrevivência na pandemia exercida na vida das pessoas, revela como isso reprograma também o olhar para as novas construções e serviços, especialmente quando questionamos a ordem hotelaria x urbanismo, uma vez que esta ciência humana moderna, tem a aptidão de ser um”hub” para a cidade: um local onde se disponibilizam vários serviços, partindo da hotelaria, alimentação fora de casa, coworkings, áreas de lazer, lavanderias comunitárias, vendas de suvenirs (pró-turismo, – quando a localização é adequada para isso), estacionamentos, entre outras opções. Gosto de evidenciar que o primeiro serviço da hotelaria é o acolhimento de pessoas: recebê-las, protegê-las, oferecer tranquilidade, conforto e bem-estar para que o hóspede esteja pronto para suas próximas atividades fora de casa, inclusive, através das opções de comunicação atuais, muitas vezes um maior direcionamento desse hóspede se torna possível, tanto pelas sugestões dos profissionais, como das ferramentas digitais motivando-os para seus destinos e possibilitando absorver mais dobairro, cidade e região, consumindo, gerando renda, emprego, concretizando a circulação de capital na economia; edesta forma, vejo a atividade hoteleira como fundamental para a sociedade atual e futura, totalmente incluída no desenvolvimento das Smart Cities mundo afora.
FATOS DO PERÍODO NO BRASIL E NO MUNDO
Neste momento, após o período agudo da pandemia, compreendo que a percepção momentânea da nova forma deviver, se faz de diferentes maneiras entre os países, porém, sem sombra de dúvidas, a tecnologia e a ciência sãounanimemente pilares desta transformação. Entre as empresas por exemplo, 45,7% já começaram a implementarestratégias de transformação digital, como revela pesquisa realizada pela Samba Digital, divulgada no primeirosemestre deste ano. Constatou-se que nestes quase dois anos, incontáveis profissionais aprenderam a trabalhar decasa e a consumir de maneiras diferentes. Em 2021, o mundo chegou aos 4,66 bilhões de pessoas conectadas à rede, ou seja, mais da metade da população mundial, segundo registros do relatório do We Are Social e Hootsuite.No Brasil não foi diferente, a quantidade de pessoas conectadas aumentou, evoluindo de 74% da população no anode 2019, para 81% em 2020, o que representa 152 milhões de usuários acima de 10 anos, conforme dados da pesquisa TIC Domicílios, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação. Isso revela a maior importância que a tecnologia passou a ter durante a pandemia em prol da preservação da humanidade, e o seu fator de aceleração no dia a dia. Essa transformação também foi sentida pelo setor hoteleiro,uma vez que os serviços foram diversificados em toda esta fase pandêmica, pois hotéis complementaram suas atividades, oferecendo serviços de coworking, office room, fornecimento de refeições, academias,estacionamentos, lavanderias compartilhadas, além claro, da hospedagem; e auxiliados pela tecnologia tornaram-se fundamentais para preparar respostas e soluções rápidas para que as empresas possam mitigar impactos, criar resiliência nos negócios, preparando-se para alcançar resultados positivos na retomada e nos próximos períodos. O fato é, que nunca se pensou tanto em sustentabilidade!
CASE
Há mais de 20 anos, A Accor tem um trabalho inovador e de excelência na área da sustentabilidade. São pilares estratégicos de otimização dos recursos naturais de nossa empresa que atingem não somente as comunidades e cidades as quais estão inseridas, mas todo o globo através das iniciativas:
1) Introdução dos vasos sanitários com acionamento duplo no mercado hoteleiro, com opção de utilização de três e seis litros, resultado em uma economia de até 30% no consumo de água.
2) Sistema de drenagem de saída dos esgotos cinza que são aquelas águas captadas dos ralos dos chuveiros e pias, que após tratamento, permite-se a reutilização desta água.
3) Somos a primeira empresa com preocupação do consumo do ar condicionado, especialmente por nossas unidades instalada sem regiões quentes como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e outras cidades, que habitualmente no verão atingem altas temperaturas, e também em regiões onde existe muita umidade no ar; com pré-disposição de maior utilização do ar condicionado. Para resolver a situação, nossos hotéis atuam com controle de demanda, onde os aparelhos atuam de forma inteligente, diminuindo ou aumentando a potência conforme a oscilação da temperatura natural local.
4) Utilização de lâmpadas LED, com implementação de energia solar e caldeiras,resultando em um consumo até 35% menor do que os sistemas únicos aplicados, ou até então tradicionais. Além destes, temos inúmeras outras soluções sustentáveis implementadas ao longo do tempo nas unidades, porém, faz-se necessário, agora mais do que nunca, enxergar ao longe, e projetar novas estratégias.
O QUE VIRÁ
Atualmente, as análises revelam os diferentes papéis dos agentes envolvidos nas transformações urbanas, com grande destaque para as ferramentas tecnológicas da informação e comunicação como as novas operadoras dos processos urbanos, onde as mesmas se configuram como importantes modeladoras das próximas fases das cidades inteligentes, potencializados através do 4G e 5G, já que são essas tecnologias que possibilitarão os features(recursos) das cidades do futuro, interligando as informações de tudo o que há, e ainda existirão nas cidades, tais como os hospitais, hotéis, restaurantes, postos de abastecimentos, estradas, pedágios, shopping centers, parques,entre outros, e quanto mais amplificada esta comunicação, acredita-se que melhor será a vida, através destas facilidades.
NO BRASIL
A tendência em se projetar smart cities, ou até mesmo em tornar inteligentes as cidades, cresce em nosso país concomitantemente com as políticas neoliberais de privatização dos espaços públicos, dado que as ferramentas tecnopolíticas de gestão urbana são desenvolvidas e comercializadas por empresas privadas, geralmente ligadas às big techs estrangeiras.É importante enfatizar que a sustentabilidade base de qualquer projeto é a financeira, e como membro do Conselho Diretivo do Green Building Council Brasil, reforço que é impossível gerar riqueza em prol da humanidade sem sustentabilidade, pois é somente esse avanço sustentável que garantirá a vida; e este é também o papel da hotelaria do presente e do futuro, entendendo que sustentabilidade se dá através da viabilidade econômica, social,do meio ambiente, durabilidade, integração e comunicação junto ao meio, funcionalidade e aproveitamento máximo, e por fim, e tão importante quanto, o viés arquitetônico e design, que caminham juntos e por sua vez,devem prever todas estas questões acima, de forma igual e prioritária na construção e utilização de todas as coisas,tanto no mobiliário, quanto nas obras privadas e públicas do mundo todo. Hoje, meu desejo é que cada um de nós possa enxergar no próximo nossa própria existência, contribuindo de forma inteligente para um futuro melhor para as pessoas e a nossa grande casa, o planeta Terra.
By Paulo Mancio
Foto Paulo Mancio: Ricardo Pereira
Imagem: ilustração
Com exclusividade para a Revista USE DESIGN.
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