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O DESIGN & ELE

Plural e atual, o brasileiro Luiz Augusto de Siqueira Índio da Costa continua escrevendo uma bela trajetória. Apaixonado pela família e as belezas naturais do Rio de Janeiro, a criação é o mote de seus projetos que tem apelo global, e privilegiam uma linguagem que vai muito além do décor, mas da funcionalidade e da perpetuidade das coisas.

Graduado em Design de Produto pela Art Center College of Design (1993), com larga experiência na área de desenho industrial, o talentoso Índio da Costa nos fala sobre vivências e tendências que revolucionam o mundo. Conheça então um pouco mais da vida deste profissional que também é responsável por inovações que incluem o Brasil como referência no mundo da decoração, da arquitetura e design.

 

Revista USE: Vamos iniciar nosso bate papo falando de família, infância, desenvolvimento, influências e escolhas.

Índio da Costa: Tenho uma família excepcional, somos 4 irmãos. Meu pai é arquiteto e minha mãe decoradora. Nascemos e fomos logo influenciados pelo olhar estético que eles sempre tiveram. Sou muito feliz em constatar que meus pais já ultrapassaram os 50 anos de casados, e, somado a isso, minhas lembranças da infância sempre permeiam momentos felizes, onde estávamos sempre juntos, e que aos poucos, de forma natural, fomos tomando rumos diferentes. Hoje, todos temos filhos e juntos formamos uma grande família. Das minhas escolhas, eu vejo que até demorei bastante para ter certeza do que eu queria fazer na vida. Vaguei por várias alternativas, sempre fui muito abrangente, e então acabei indo estudar design, quase que por acaso. Um amigo me levou para assistir uma aula, onde acabei entendo a diversidade, profundidade e horizontalidade do design, o que me permite trabalhar com visão muito abrangente até os dias de hoje. Enfim, me encantei por design.

 

USE: Quais foram os momentos mais marcantes do começo da sua carreira?

Índio: Iniciei meus estudos aqui no Rio de Janeiro, e já no início da graduação, participei de um concurso internacional para estudantes, patrocinado pela Sony, que premiou 12 designers, entre quase mil candidatos, destes, sete vinham de uma mesma faculdade. Já estava desiludido com a faculdade no Brasil, (o curso era pouco difundido em nosso país), e eu já estava decidido a buscar uma especialização mais forte, internacional. Consegui estudar pela Art Center College of Design, no campus da Suíça, sempre achando que o design europeu era mais profundo e conceitual que o americano, e tive uma experiência internacional fantástica: Com estágios na França e na Dinamarca, onde recém formado trabalhei na Alemanha. Depois de todo este tempo fora, decidi voltar e abrir um pequeno departamento de design no escritório do meu pai. Logo isso virou uma empresa e iniciamos o processo de crescimento.

 

USE: Qual foi seu primeiro trabalho após sua formação no Brasil?

Índio: O meu primeiro trabalho recém formado, depois desta experiência internacional, foi o projeto do mobiliário urbano do Bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Participamos de um concurso público, que vencemos – um projeto chamado Rio Cidade, feito pelo prefeito César Maia, onde integramos a participação: A equipe de arquitetura e paisagismo que era liderada pelo meu pai, arquiteto Índio da Costa e o paisagista Fernando Chassel, onde fui responsável pelo design do mobiliário urbano do Leblon, que rendeu meu primeiro prêmio de design em 1995.

 

USE: Conte-nos sobre o processo de trabalhar junto às indústrias.

Índio: Através do impacto direto da execução do projeto do Bairro do Leblon e de toda publicidade que o permeou, iniciaram-se as atividades junto as indústrias. Com um portfólio bastante amplo, que variam de barcos a eletro portáteis, a equipe formada passou a receber destaque em diversos segmentos por todo país.

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USE: O que é o ÍNDIO DA COSTA A.U.D.T ?

Índio: O escritório de design, que aos poucos que se tornou uma empresa, nunca perdeu os laços com o escritório de arquitetura, até recentemente na evolução do nosso escritório. Passamos a chamar Índio da Costa A.U.D.T:  Arquitetura, Urbanismo, Design e Tranporte. Onde meu pai é responsável por arquitetura e urbanismo e eu sou responsável pela área de design e transportes. Efetivamos muitos trabalhos ligados ao urbanismo e design de cidades. Recentemente, desenhamos os abrigos de ônibus da cidade de São Paulo; houve uma grande licitação, que vencemos, e aqui no Rio acabamos de desenhar o veículo sobre trilhos, o VLT e toda sua implantação urbanística. São muitos projetos ligados à cidade, mobiliário urbano, projetos de transporte e muitos outros produtos.

 

USE: Fale sobre uma paixão: O que te move?

Índio: Eu sou um homem de muitas paixões, entusiasmado pela vida, e por tudo que ela nos traz. Trabalhar com design, é a minha grande paixão. Realizar projetos que contribuam  para uma sociedade e um mundo melhor, realmente me faz feliz. Esta é uma profissão transformadora.  Eu acredito que o design pode mudar o mundo.

 

USE: Da sua vida pessoal: Quais músicas e filmes você mais gosta?

Índio: Sou um cara transversal. Da música sacra ao rock, clássicos, pop… e gosto de uma infinita variedade de filmes que tem a capacidade de me inspirar.

 

USE: Guto, o que você nos diz sobre animais de estimação?

Índio: Os animais sempre fizeram parte da nossa vida. Quando crianças, moramos numa  casa que era projeto do meu pai, e que tinha um jardim enorme. Tivemos cachorro, coelho, arara, canários…Uma infância rodeadas por bichos. Acho que aprendemos muito com eles. Hoje, quem aproveita mais essas relações, são minhas filhas.

 

USE: O que não pode faltar na casa do “Guto”?

Índio: Paz, tranquilidade, conforto, luz…Uma linda vista! Devemos saber escolher nossas janelas! (risos). Deve ser um lugar de desconexão, intimidade, relaxamento. Um espaço para recarregar as baterias.

 

USE: Fale um pouco sobre sua rotina. Como tudo funciona no seu dia a dia?

Índio: Basicamente alterno minha rotina entre trabalhar no escritório e estar com os clientes em quase todo o Brasil, por isso acabo viajando muito. Contudo, minha base é o Rio de Janeiro onde eu divido o meu tempo entre criação, gerenciamento de equipe e a própria empresa. Agora, descrevendo a parte mais divertida disso tudo, e a que eu mais gosto? Sem dúvida nenhuma, a criação. Sou um designer mais inventivo, eu gosto de criar soluções, observar o cotidiano e fazer uma crítica construtiva, propondo alternativas. Indago e vivo questionando. Pensando e propondo. E na vida pessoal, sou diurno, adoro ar livre e a natureza. Não é a toa minha opção de morar no Rio de Janeiro, que é um município que consegue combinar as características da cidade grande e a natureza. Adoro estar ao ar livre, esportes, curtir a cidade, e mesclar estes universos.

Indio da Costa

USE: Já falamos de trabalho, mas como fica o lazer em sua vida?

Índio: Este é um ponto “engraçado”. A maioria das pessoas passa a vida trabalhando para ganhar dinheiro, e com isso se divertir. Agora, quem consegue se divertir trabalhando, tem uma outra visão disso tudo. Quando o trabalho é entusiasmante, interessante. Então não há fronteira. Lazer é estar a vontade, fazer o que gostamos. Na praia, em um piquenique em um belo gramado, ou sentar e desenhar algumas ideias – pode ser prazeroso e também uma forma de lazer.

 

USE: Quais são seus principais valores para a vida?

Índio: Meu pai tem 78 anos. Todo dia 9 horas da manhã ele esta no escritório trabalhando. Ele é apaixonado pelo que faz, super talentoso, e reconhecido. Prazer em trabalhar. Herdamos isso, meus irmãos e eu.

 

USE: Existe algum profissional que você admira?

Índio: Existe um designer alemão chamado Hartmut Esslinger, que é muito bem sucedido. Ele estava no auge de sua carreira quando me formei. Ele tem uma frase que eu diria que define o momento do design que eu tenho a oportunidade de viver: “A forma segue a emoção”, e não mais a função como antigamente. É claro que a segunda deve ser seguida, mas ela deve ser importante para as pessoas. Temos emoções estéticas!

 

USE: O que mais te incomoda  na arquitetura contemporânea?

Índio: É a falta de perenidade. A arquitetura contemporânea permite muita liberdade aos arquitetos. E muitas vezes, isso resulta em projetos não tão “definitivos”, ou menos duráveis.  Se a perenidade já é importante para o design de produtos, com a arquitetura ainda mais. Devem manter-se modernos, belos, atuais e ecologicamente corretos, mesmo ao longo do tempo.

 

USE: O que te revela o mundo atual?

Índio: Estamos vivendo uma grandiosa transformação, que vai nos trazer a conectividade dos produtos. O homem nestes últimos anos, conectou a humanidade. E eu acredito que nos próximos cinco anos, serão muito mais transformadores, quando os produtos vão se conectar independentemente das pessoas. Esse processo já iniciou. Sensores de iluminação conectados a internet que alteram a intensidade da luz, conforme o volume de pessoas na rua. O maior exemplo na minha opinião é o carro autônomo, que não precisa de motorista para trafegar. São milhares de informações enviados para uma central. E todos os produtos que nos cercam serão assim. Isso me preocupa muito com relação ao Brasil. Sempre protecionista, fechado…Onde toda essa “parafernalha” eletrônica custa caro, e o primeiro mundo vai dar um salto muito grande em conectividade, e vamos precisar acompanhar, por que o mundo moderno será todo conectado, sem dúvida.

 

USE: Você e sua equipe já receberam muitos prêmios. Qual o mais emocionante?

Índio: Existem muitos prêmios importantes de design. Recebemos graças a Deus, inúmeros nacionais e internacionais. Na Alemanha, no Japão e nos EUA. O iF e Red Dot Design Award (alemães), o prêmio Good Design (Chicago)….Mas para mim o mais importante foi o da Sony durante a faculdade. Foi muito concorrido e emocionante, em seguida, recém formado, fui premiado em Milão – recebi o prêmio das mãos de Achille Castiglioni. A emoção é sempre forte nestes momentos. Embora eu entenda que o reconhecimento público é o mais valioso de todos. Felizmente eu tive este feedback: Da melhoria e da transformação que impacta positivamente a vida das pessoas.

 

USE: Fale sobre o Rio de Janeiro.

Índio: Vibrante. Linda. Maravilhosa por um lado. Caótica e trágica por outro. Mas muito inspiradora, apesar de ser tão heterogênea. Uma cidade dentro de um paraíso. A cidade não é realmente maravilhosa. Mas o paraíso que aqui existia e parte ainda existe…Este sim, é maravilhoso.

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USE: O que resume inovação para você?

Índio: Nenhum designer é bom se não for inovador. O mundo já tem uma quantidade imensa de produtos. Não há porque fazer outros se não forem inovadores. Em minha opinião um designer é bom quando ele inova: 1) Esteticamente o produto, ou seja, tem um formato diferente, original. 2) Quando inova-se tecnicamente, ou seja, quando o produto é fabricado de forma mais inteligente. 3) Quando ele inova funcionalmente. E atualmente é importante considerar também o descarte, o desmonte ou a reciclagem do produto. O mundo que vivemos não vai sobreviver em longo prazo se não reutilizarmos o que gastamos em escalas incontáveis. O design tem essa questão também. O foco do design deve ser sempre os humanos.

 

USE: Discorra sobre o Brasil 2016. Como você resume este ano?

Índio: Uma imensa decepção. Sonhamos nos tornar uma economia de primeiro mundo. Achamos que havia chego nossa hora, que pegaríamos um “foguete” para o primeiro mundo e transformaríamos este país num lugar sério e civilizado. Infelizmente 2016 foi o clímax do caos absoluto. Foi quando nossos maiores anseios foram por água abaixo. Por outro lado, entendo que conseguimos virar a mesa. Não tem sido fácil, mas destituir uma presidente visivelmente incompetente – senão corrupta, (não sei se ela, mas todo esquema em um nível de corrupção inacreditável) – isto foi uma grande vitória para todos. Não houve golpe algum! Golpeados fomos nós! E finalmente aconteceu, e por meios legais. Fico feliz como designer que trabalha com a indústria, em viver estas mudanças. (…) Eu assisti nestes últimos dois anos, a indústria brasileira ficar de joelhos. Tantas pessoas desempregadas e empresas fechando. E então se Deus quiser, já que este ano ficou marcado como o fim de um grande ciclo decepcionante, que ele seja também um ciclo reestruturador, e que possamos transformar verdadeiramente este país e torná-lo muito melhor para nossos filhos.

USE: E para finalizar, conte-nos um desejo, um sonho que você tem.

Índio: Um mundo realmente melhor em todos os sentidos.  E desejo que este sonho se realize em pouco tempo, antes do colapso ambiental que ameaça a vida dos nossos filhos.

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