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Giovanne Vespe leva arte para o banheiro em sua estreia na CASACOR 2025

Obras de arte e peças funcionais repletas de simbolismos reforçam a narrativa do ambiente que propõe descanso e reflexão sobre a passagem do tempo

Estante em serralheria com tela tensionada
Foto: Vitor Guilherme

 A estreia de Giovanni Vespe na CASACOR São Paulo 2025 poderia muito bem ser descrita como uma ode ao tempo e à arte que o atravessa. Com um olhar apurado para a curadoria de arte, design e história da arquitetura, Giovanni ressignifica o papel do banheiro dentro do lar, trazendo elementos antes vistos apenas em spas e resorts, para o cotidiano das pessoas. As obras que compõem Solos do Tempo, não têm papel apenas funcional ou decorativo. Estão ali para apoiar a narrativa e o conceito do ambiente, que é convidar o visitante a parar para viver esse espaço, refletir sobre o passado e o futuro que deseja, enquanto é impactado pela beleza da natureza e sua influência positiva em nossas vidas. O objetivo é que ao saírem, todos estejam convencidos de que as cores, os materiais, a luz e os objetos interferem diretamente em nosso bem-estar físico e emocional.

A reflexão

Dividido em três atos: passado, presente e futuro, o projeto começa em uma ala de reflexão, onde a estante de aço com tela tensionada, iluminada com LEDs dimerizáveis, se torna também contemplativa. O degradê intencional da luz, que permanece mais forte até a altura dos livros e depois esmaece em direção ao teto é uma forma de valorizar a história, mostrando que o futuro ainda não está escrito. A peça foi criada depois de vários testes e é basicamente composta por fitas de LED 2700K fixadas na parede, cobertas por lonas tensionadas da Tensoflex e uma estrutura em aço com prateleiras de vidro, para manter a leveza do ambiente.

Pendente Vértice e Arandela Samurai, de Waldir Jr / Tela Doce Colheita II, de Jorge Souza
Foto: Vitor Guilherme

Ainda nesta ala, a tela “Doce Colheita II”, de Jorge Souza é uma das mais intrigantes para o público. Com maçãs em relevo, a pintura ressignifica a relação entre desejo e moralidade, utilizando as frutas vermelhas e maduras como metáfora central.  “As frutas, vibrantes e palpáveis, transbordam da obra para convidar o espectador a um jogo de tentação. A maçã, em especial, remete ao duplo símbolo do prazer e do pecado”, explica Jorge Souza. A composição, entretanto, não se limita à crítica social: ao materializar essas frutas em porcelana, a cena tensiona o efêmero (o desejo) e o permanente (a matéria), propondo uma reflexão sobre como o “proibido” se cristaliza na cultura e na história da arte. A pintura, feita em óleo sobre tela, aquarela e carvão, além de objetos escultóricos (cerâmica e porcelana) é o resultado de uma investigação do artista, que, desde 2024 se debruça sobre uma pesquisa sobre as relações entre o desejo e os materiais de suporte artístico. “O objetivo é interligar esses suportes, criando diálogos entre técnicas e materiais”, diz. A obra ‘Doce Colheita II’ dialoga com a série de caricaturas eróticas da aristocracia inglesa, criada por Thomas Rowlandson (1756-1827) entre 1808 e 1817, que satirizavam os excessos e hipocrisias da elite. Dentro do ambiente Solos do Tempo, ela faz alusão a história de Adão e Eva, e nos leva a refletir a respeito da vida no paraíso, dos prazeres mundanos e da ruptura com as regras.

A ancestralidade

As luminárias assinadas por Waldir Jr. são protagonistas silenciosas no espaço Solos do Tempo. De estética marcante, elas vão além da forma e oferecem uma luz acolhedora, que envolve o ambiente e intensifica a sensação de bem-estar. “Quando a iluminação é bem executada, as pessoas percebem a diferença, mesmo sem entender tecnicamente, e ouvimos que o espaço está ‘gostoso’, ‘aconchegante’. Esse efeito só é possível com um projeto de luz bem pensado”, afirma o designer.

Próxima às robustas poltronas de Luan Del Savio, Giovanni posicionou a arandela Samurai, inspirada no chapéu tradicional usado por esses guerreiros japoneses, símbolo de disciplina e precisão. Com base de rocha natural e cúpula cônica em metal revestido por tecido cru, a peça traz uma leitura contemporânea do estilo japandi, que mescla o minimalismo japonês com a funcionalidade escandinava. “Sou apaixonado por essa estética. Ela une o que há de mais essencial em duas culturas que valorizam a simplicidade e o equilíbrio”, diz Waldir.

Outras duas criações do designer também marcam presença no ambiente. Ao lado da segunda poltrona, o pendente Vértice — feito em acrílico lixado com haste dimerizável — emite uma luz difusa, graças ao acabamento jateado que confere à cúpula um aspecto fosco e sofisticado. “A peça tem vértices definidos e, quando posicionada junto a outra igual, cria um jogo visual de cheios e vazios, como um tabuleiro de xadrez”, explica.

Arandela Enigma, de Waldir Jr. / Foto: Vitor Guilherme

Dentro das cabines, a luminária Enigma se conecta ao conceito de ancestralidade, muito presente no projeto. Também criada por Waldir Jr., a arandela é feita em cristal soprado, assim como os tradicionais muranos, seguindo a técnica milenar difundida pelos romanos. “Ela recebeu o nome Enigma porque sua luz muda conforme o ângulo de observação. Esse efeito misterioso é o que dá à peça seu caráter enigmático”, completa o designer.

Mesa Solos do Tempo – Giovanni Vespe Arquitetura
Foto: Vitor Guilherme

Entre as peças funcionais, que ganharam status de obras de arte, a mesa de apoio esculpida em MDF e revestida em laca preta é uma das mais especiais, pois foi desenhada por Giovanni, para o ambiente e, por isso, foi batizada com o mesmo nome. A criação veio depois de muita procura por uma peça que trouxesse a ideia de ancestralidade no design e uma mistura harmônica entre linhas retas e orgânicas. O desenho criado pelo arquiteto é a simbiose entre um diamante e uma esfera, ambos símbolos ancestrais, que evocam a origem da formação geológica do planeta, a ancestralidade da matéria e a continuidade da vida.

Obra Duo em Cedro – Giovanni Vespe Arquitetura
Foto: Vitor Guilherme

A transição

Do lado oposto à ala dedicada à reflexão, inicia-se a transição simbólica para o futuro, representada pelo corredor. Nele, a escultura de parede do pernambucano Marcelo Oliveira, traz os laços entre a vida e a natureza para a narrativa. A obra que une tecido natural a um suporte de cedro de demolição, ganhou o nome de Duo em Cedro. “A princípio seria uma peça única, mas ao apresentarmos como uma composição, Giovanni aprovou o projeto e assim as duas peças se tornaram uma”, diz Marcelo. A fluidez do tecido e suas tramas torcidas, remetem à estrutura do DNA humano, criando uma metáfora sobre o entrelaçamento da vida. Ao posicionar a escultura nesse ponto de transição do espaço, Giovanni reforça a ideia de que o futuro está intrinsecamente ligado à natureza e que refletir sobre isso é fundamental. “Nossa existência e os sonhos que semeamos hoje só se sustentam se olharmos com atenção para o futuro do planeta”, diz o arquiteto. Além do simbolismo, há também um olhar atento às tendências. O tecido escolhido para a obra se assemelha a Mocha Mousse, eleita a cor de 2025, agregando sutilmente uma leitura contemporânea.

Painel em serralheria e vidro – Foto: Vitor Guilherme

 

Espelho em serralheria  – Foto: Vitor Guilherme

O futuro

No desfecho do percurso expositivo, chega-se simbolicamente ao futuro, representado pela área do lavatório. É ali que a paisagem do parque assume o papel de protagonista, através de um painel em serralheria e uma composição refinada de vidros canelados, martelados e miniboreal, instalados diante da janela original. A cena fica ainda mais interessante com o espelho posicionado paralelamente ao painel, refletindo a paisagem.

As diferentes texturas dos vidros criam um jogo sutil de luz e sombra, ao mesmo tempo em que revelam e ocultam fragmentos da paisagem exterior. O efeito é poético: o parque se insinua no ambiente como se fosse parte indissociável da instalação, diluindo os limites entre dentro e fora, arquitetura e natureza.

“Observamos o uso expressivo de vidros texturizados durante a Semana de Design de Milão e decidimos incorporar essa tendência ao projeto como uma maneira de valorizar a vista para o parque”, explica Giovanni. Além de conceitual, a escolha resgata a presença cíclica do material em diferentes fases da arquitetura.

E como um gesto final, na contramão da tendência das formas orgânicas, Giovanni traz um o espelho em formato de raio, com design geométrico, que molda o reflexo dos visitantes entre as copas das árvores. Uma moldura viva, que torna quem olha parte da composição e do sonho.

Giovanni Vespe entrega mais do que um banheiro: oferece uma nova forma de habitá-lo. Um espaço onde o tempo se dilui entre arte, memória, luz e silêncio. Um lugar para pausar, sentir, refletir e semear sonhos.

FICHA TÉCNICA – Ambiente “Solos do Tempo” | CASACOR São Paulo 2025

  • Profissional: Giovanni Vespe
  • Obras de arte: Jorge de Souza, Marcelo Oliveira
  • Luminárias: Waldir Jr. – WJ Luminárias
  • Estante: Aluni Factory Lona + LED: Perfeita Luz Design: Giovanni Vespe Arquitetura
  • Espelho e painel de vidro: Ladeira Martins Design: Giovanni Vespe Arquitetura
  • Mesa de apoio: Giovanni Vespe Arquitetura e Ravello Móveis e Decorações

 

By Paris Comunicação
Foto: Vitor Guilherme

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