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Artigo | O normal dos anormais

*Por Julio Gavinho

A palavra comum é a corrupta do sentido “como um”. Sua origem monta os princípios da sociologia e busca dar sentido aos fenômenos sociais que atingem a todos, “como um”.

Vamos dando botinadas, cabeçadas nos portais e caneladas em tudo que não vemos – até que um outro se comporte “como um” e mais alguém se comporte “como um”. Quando uma massa de “como um” se forma, é porque o comportamento da maioria orientará a todos, deixando então de ser “comum” e passa a ser reconhecido como “normal” – aquilo ou aquele que segue a norma.

Apenas déspotas ou ditaduras corruptas promovem o “normal” em detrimento ao comum. Norma que se evade do senso comum só funciona “sob vara”.

Eu estive por duas vezes na Tailândia e, em ambas, tive a oportunidade de treinar no camp com Khaosai Galaxy – peso pena com 41 vitórias por KO na sua carreira. Ele deve ter uns 1,60m e pesar algo ao redor de 55kg. É quase imbatível para todas as categorias mas para um adversário peso pesado, não tem “quase” não… é impossível acertá-lo dentro das regras tailandesas. Uma vez durante os ensinamentos depois do treino, ele nos contou a fábula da iluminação de Bangcoc. Ele nos contou que o rei Rama I, olhando para porção mais pobre de sua cidade do outro lado do Rio, separou uns bons cobres e determinou a iluminação noturna da cidade. Seu ministro então recolheu o cascalho do rei e guardou. Ato contínuo, determinou ao seu chefe de polícia que obrigasse, sob pena de morte, a todos os moradores de ambas as margens do rio, a iluminar suas casas com lampiões fortes o suficiente para iluminar suas casas e calçadas.

No dia seguinte, o rei Rama I, antes de cair nos braços de Morfeu, foi até a varanda do seu novo palácio e contemplou seu nome, a ser escrito com luz na história. O seu ministro então… ficou duplamente feliz: por ter cumprido com folga as ordens de seu rei tanto quanto engordou e muito suas finanças pessoais com sua parte do butim.

Não houve nem “eu” nem “você” nem o “como um”. Não houve o que fazemos em comum nem nada que justificasse o estabelecimento de uma nova “norma”. Simples assim, como costuma dizer o meu brilhante amigo, Arquiteto Eduardo Manzano: acende ou morre. O normal em Bangcoc já em 1700 e bolinho era de cumprir a ordem. Eventualmente, esta ordem minguou e o rei “quem-quer-que-seja” passou a iluminar a cidade. Normal? Novo normal? Faltou povo nessa história absurda… lembra alguma coisa? Tipo, “Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”?

Notem que o primeiro conjunto de leis e regulamentos sociais que reconhecemos como normal, tem seis mil anos. O Código de Hamurabi, cuja a origem se reputa ao grande Rei Hamurabi, foi um exercício de compilação de conhecimento comum. Ao Rei coube apenas compilar e observar o que já era praticado “como um” e daí colocar sua assinatura e transformar em “norma”. A partir da iluminação de Bangcoc e a partir de inúmeros exemplos de atos de governo, fica convencionado entre os historiadores que “a norma é consequência natural do senso comum e de sua observação.”

O que temos então para o jantar de hoje?

“A consciência cívica da classe média co-existe com o “medo da vara” que atinge as classes mais baixas.”

Dá uma folhada aí no filósofo Austríaco Hans Kelsen (que na verdade nasceu em Praga) ou no francês Emile Durkheim e tudo ficará mais claro, além de divertido!

Achar que o mundo mudará, igual roteiro de “Guerra dos Mundos” é tomar partido político contra a nação, qual seja, contra si próprio. Precisamos antes de mais nada, observar se agimos “como um”, se temos um senso que privilegia a sociedade e que podemos chamar de comum. Um novo normal, quando não há concordância sobre o que é ou não aceito pelo bem comum, está fadado a virar o “quase normal” ou mesmo, um “anormal”.

Há um ditado em comunicação que diz que a “verdade é a primeira vítima da guerra.” Aqui, nos jatos de tinta da minha impressora, parece-me que emergencialmente um certo Estado quer impor a uma certa Nação, seus fios de marionete. Óquei, entendi. Emergencialmente, temporariamente. Mas, se temos governos nas 3 esferas que não são assim tão confiáveis; se temos órgãos de imprensa que são simbioticamente alimentados pelo governo e deste governo tiram seu sustento; se temos oposição que (…) não quero nem pensar e finalmente; se temos um judiciário que jamais! jamais! teve legitimidade para nos representar como nação, eu devo admitir que estamos meio perdidos mesmo…

Ordens, contra-ordens, desobediência civil e a falsa independência dos poderes operam seus milagres para que a sociedade exista a sombra da democracia. Porque? Sei lá. Eu deixo a resposta com vocês.

Mas normal e/ou anormal, precisam de um pouco de participação da sociedade.

Algo ali, tipo 99%.

*Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, sócio e Diretor da MTD Hospitality, Diretor Executivo” da Dee Participações e professor do curso de MBA em hotelaria de luxo e do curso de MBA em arquitetura de luxo da Faculdade Roberto Miranda.

 

 

 

 

Enviado por Vervi Assessoria

Imagem: Divulgação

 

 

 

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