Inspirado em Puerto Madero, Argentina, o paulistano Largo da Batata vai se transformando em área amigável no espaço urbano.
Criar e recriar espaços, valorizar a arquitetura e melhorar a vida das pessoas, com práticas sustentáveis. Se esta é uma meta buscada em grandes cidades, São Paulo vai mostrar que é possível, sim, melhorar (em muito!) o ambiente construído (built environment, em inglês) e reorganizar espaços, ampliando ações inclusivas. “Somos todos responsáveis e interdependentes”, resumiu Silvia De Tommaso, empresária e professora na linha de responsabilidade socioambiental e ética empresarial, durante a 1ª Jornada de Sustentabilidade para Arquitetura, Design e Construção, realizada dia 29 último no Auditório da FIA Business School.
Criar e recriar espaços, valorizar a arquitetura e melhorar a vida das pessoas, com práticas sustentáveis. Se esta é uma meta buscada em grandes cidades, São Paulo vai mostrar que é possível, sim, melhorar (em muito!) o ambiente construído (built environment, em inglês) e reorganizar espaços, ampliando ações inclusivas. “Somos todos responsáveis e interdependentes”, resumiu Silvia De Tommaso, empresária e professora na linha de responsabilidade socioambiental e ética empresarial, durante a 1ª Jornada de Sustentabilidade para Arquitetura, Design e Construção, realizada dia 29 último no Auditório da FIA Business School.
Não, o nome “Potato” não aparecerá brilhando com luz de neon ou algo que o valha; tampouco o “Papa”, mas em breve o Largo da Batata – herança do “Mercado dos Caipiras” e de seus comerciantes de batatas, no entorno do Largo de Pinheiros, em São Paulo – será ressignificado do ponto de vista da arquitetura e urbanismo. A exemplo do que ocorreu com a velha Recife – que na virada deste século acabou com a degradação, em todas as suas variáveis, e implantou o Porto Digital, que mudou 171 hectares na capital pernambucana e conquistou o prêmio de Melhor Parque Tecnológico do Brasil nos anos de 2007, 2011 e 2015 pela Associação Nacional de Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o Largo da Batata começa a mudar.
É crível pensar também em Puerto Madero, bairro da capital argentina, Buenos Aires, completamente arruinado até os anos 1980 e que a partir da década seguinte (anos 1990) assistiu a um processo de reconstrução visceral. As velhas construções (de prédios e moinhos) que caiam aos pedaços deram lugar a um novíssimo bairro, cujo metro quadrado hoje custa US$ 5.500. “O Largo da Batata vai mudar, como aconteceu com a Faria Lima”, diz Rubens Anjos, engenheiro civil e gerente de Sustentabilidade da Even Construtora e Incorporadora. Ao abordar a mudança do mindset, falou da experiência da empresa que desde 2020 mudou o conceito e a prática de ter uma área de sustentabilidade, para a criação de um comitê, envolvendo toda a organização. “Assim tornamos a sustentabilidade estratégica, conferindo-lhe sensação de propósito mais claro”, completou.
Hoje a Even não só abraça a comunidade local, quando da instalação dos “canteiros sustentáveis” de obras, como oferece condições de descanso e lazer adequadas aos operários. Na venda dos imóveis são apresentadas as condições daquelas unidades em favor do meio ambiente, para que exista o famoso “ganha, ganha, ganha” (cliente, construtora e o meio ambiente). Ao longo da vida útil projetada (50 anos), este imóvel consumirá 40% menos água que a média atual e 47% menos energia. A companhia, criada há 40 anos, já consegue neutralizar suas emissões (GEE) e formou 4.500 colaboradores no ensino médio. Atualmente tem 30 pessoas sendo apoiadas na inclusão digital. “Vale a pena investir”, frisou.
CLIMA / TECNO
As condições climáticas e a tecnologia mudaram bastante e, obrigatoriamente, precisam ser levadas em consideração. A observação é da professora Mônica Kruglianskas, profissional de sustentabilidade com atuação no Brasil, Europa e Estados Unidos, sendo coordenadora na FIA Business School e no MIT , além de diretora do ClimaTech Boston.
Ela discorreu sobre ESG (práticas ambientais, sociais e governança, na sigla em inglês). “Saímos de uma visão de túnel, para a visão 360º”, resumiu. Para Monica, a “explosão do ESG” atingiu em cheio as estruturas e ambientes construídos – setor que movimenta 10% do PIB, consome 1/3 da energia mundial e 60% do total de matérias-primas – tornando obrigatória a mensuração dos impactos imobiliários. Reconhece que este “não é um tema leve, fácil, mas é preciso acompanhar a adaptação das populações em áreas mais aquecidas, por exemplo, porque as mudanças climáticas já estão aí, vide o caso recente do Rio Grande do Sul”, alertou.
MINDSET
É necessária a mudança de mindset, disse, reiteradas vezes, Fernanda Gabriela Borger, coordenadora do Curso de Pós-Graduação de Gestão Estratégica da Sustentabilidade no PROGESA – FIA Business School. Gabi, como é carinhosamente chamada, é também pesquisadora sênior da FIPE-USP e mestre em Ciência Ambiental USP. Em sua intervenção, pregou a necessidade de mudança das pessoas e das empresas, quanto às capacidades, para se adequar às novas exigências.
No mesmo painel, a designer de interiores, fundadora e CEO da Decor Social, Katia Perrone notou que a organização social muda o mindset. No caso da Decor Social, o papel é promover a moradia saudável, para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ela mobiliza arquitetos, paisagistas e designers de interiores voluntários para planejar a reforma e decorar abrigos que acolhem crianças e adolescentes. “É espantoso o aumento de pessoas em situação de rua, no mundo todo”, desabafou.
Silvia De Tommaso, curadora da Jornada de Sustentabilidade, é um caso raro de empresária que decidiu ir para a academia, a fim de ampliar a sua ação na sociedade. PhD da FEA – USP e PROGESA – FIA Business School, atua como docente na FIA, em Sustentabilidade e Estratégia Empresarial.
Ao lado de Gabi e outros colegas, também elogiou o curso de pós-graduação em ESG e Sustentabilidade do PROGESA – FIA Business School, que formou Cínthia Souto (CEO da Soul ESGS), palestrante e idealizadora deste evento.
A professora Silvia trabalhou fortemente com projetos nas favelas do Jaguaré e de Paraisópolis, transformando ambientes e, com isto, oferecendo mais dignidade a seus moradores. Ela citou sua experiência com trabalhadores que, paradoxalmente, empregavam seus talentos para deixar bonita a casa dos outros, enquanto eles próprios habitavam lugares feios. “É preciso criar valor para a empresa e para a sociedade também”, parafraseou Michael Porter.
Tratou de economia circular, citando exemplo de um grupo de 250 mulheres que representa marmorarias de todo o Brasil. “Embora concorrentes, elas trabalham com o mesmo foco: melhorar a sociedade”. No entendimento de Gabi, a ideia de que arquitetura, design e decoração são exclusivos do mercado de luxo é enganosa. “É preciso mudar esta visão”, prega ela, lembrando que mais de 30 mil jovens hoje moram em abrigos (anteriormente chamados orfanatos) e precisam de melhor atenção. Com o que concorda Kátia Perrone, contando como mobiliza parceiros para seus projetos.
TUDO PELO SOCIAL
Antes de sermos arquitetos, professores e decoradores, somos pessoas. A frase, de efeito, é de Rodrigo Sêga, arquiteto, urbanista e mestre em sustentabilidade. Em sua exposição, recorreu a uma situação prática: “Hoje somos quase 8 bilhões de pessoas no mundo. Imagine só se cada um de nós resolver tomar um copinho d´água, no mesmo horário?”. E emendou: “Seria o caos!”. O esgotamento dos recursos precisa ser levado (muito) a sério.
Sobre ações sociais, o gerente de Imprensa na usina hidrelétrica Itaipu Binacional, Rafael Kondlatsch, falou bastante. Disse que poderia ficar um mês com o microfone na mão, de forma ininterrupta. Abordou o gigantismo desse empreendimento e as ações junto à comunidade local, priorizando os trabalhadores da usina. Enfatizou ser Itaipu uma “obra diplomática”, com 9 km de extensão física, proporcionando o desenvolvimento do Brasil e do Paraguai.
Mais que a gigante hidrelétrica (até 2012 era a maior do mundo) que se conhece, é hoje uma empresa de energia mais ampla. Seu Laboratório de Tecnologia, batizado Parquetec está voltado para soluções em hidrogênio verde e biometano. A responsabilidade social, focada desde 2005, já levou a empresa a plantar 28 milhões de árvores e cuidar da proteção dos animais, bem como de populações indígenas do seu entorno. Para além disso, Itaipu apoia cooperativas de catadores de 75 cidades – com o objetivo de saltar para 150 –, cuja renda média mensal varia de R$ 2,7 mil a R$ 4,2 mil. “Precisamos de água limpa para gerar energia e o trabalho dessas pessoas, retirando resíduos como latas e PETs antes que cheguem aos rios, é fundamental”, comentou Rafael Kondlatsch.
CONSUMIDOR
Em outro painel, João Zeni, diretor de Sustentabilidade e ESG América Latina na Electrolux, explicou que 80% do impacto dos eletroeletrônicos ocorre no uso, ficando 20% com o processo de produção. Por isso a Electrolux, empresa de origem sueca com 105 anos e presença em 120 países, está totalmente focada em seu negócio. “Carregamos no DNA a questão da sustentabilidade e por isso investimos 4% do faturamento na área e nos preocupamos com eficiência energética”.
Segundo ele, o mercado financeiro não prioriza a sustentabilidade, mas o risco. “Não tem como ser verde, no vermelho”, disse, acrescentando: “Por isso precisamos regular os mercados e atender a todos”. O uso de plásticos recicláveis vem aumentando nos produtos Electrolux e o recolhimento do produto velho, para posterior encaminhamento à reciclagem, no momento da entrega do novo, é uma dessas preocupações visíveis.
E a reciclagem de fios para a produção de tapetes, já ouviu falar sobre? Pois, a arquiteta e diretora de identidade da marca “by Kamy”, Francesca Alzati, com um sonoro e cativante sotaque italiano, explicou o que faz para melhorar o planeta. “Deve-se ter educação na vida e cuidar do meio ambiente é um mínimo de respeito com os outros”, diz ela.
Reciclando fios (como tecidos de biquíni), é possível se melhorar muito o ambiente, ao mesmo tempo em que se produz bons e ricos artigos de tapeçaria. “Entregamos 40 teares para um grupo de mulheres, que trabalham para exportar tapete aos Estados Unidos”, exemplificou ela, contando que a fábrica velha transformou-se na by Kamy Verde. “O desenho hoje todo mundo faz, o nosso diferencial está no tecelão – esse sim é o nosso artista”. Artistas como as ex-bóias-frias mineiras, que fazem bordados com sobras de fios. E por conta desse esforço, Francesca diz que esvaziou os galpões de fios para reciclar. “Além do social, temos uma ação muito favorável ao meio ambiente. Das montanhas que tínhamos, hoje reunimos um estoque máximo para um ano”.
Leticia Galatti, cerimonialista da Jornada, é especialista em gestão, inovação e sustentabilidade de negócios de moda, além de doutoranda na FEA – USP. Para Leticia, moda, design e sustentabilidade estão diretamente ligados, dessa forma, a especialista concorda com os apontamentos de Francesca em relação à sustentabilidade no design.
A Cosentino, multinacional líder na produção e distribuição de superfícies sustentáveis voltadas ao universo da arquitetura e do design, esteve presente na Jornada, fortalecendo seu compromisso com a sustentabilidade, com as boas práticas ESG, reforçando, assim, sua missão como agente de mudança no cenário global atual.
I.A. e COMUNICAÇÃO
A Inteligência Artificial e a Comunicação foram o tema do Painel 3 da 1ª. Jornada de Sustentabilidade em Arquitetura, Design e Construção. O professor José Afonso Mazzon, titular em Administração de Marketing na FEA-USP; Pós-doutorado em Análise Multivariada de Dados junto ao CNAM – Paris; e referência em Machine Learning, abordou o Data Science (com fluxos otimizados de supply chain, por exemplo); Deep Learning (aprendizado profundo, em tradução livre), com técnicas neurais; Machine Learning; e Inteligência Artificial, com os respectivos algoritmos.
Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, discorreu sobre as mudanças de como produzimos e difundimos o conhecimento. Citou o caso de um jogo, o “Diplomacia”, que curiosamente ensinou a máquina a mentir. Ele foi muito claro em citar a máxima de que “não podemos nos desconectar”. E advertiu para a oportunidade de construirmos redes de dados. “Todo dia, no Brasil, 2,1 milhões de professores recebem 37 milhões de alunos, ou seja, um Canadá inteiro! O que podemos gerar com isso? E o SUS?”, provocou.
Cínthia Souto (comunicadora, mercadóloga e especialista em Sustentabilidade e ESG), a idealizadora e promotora deste evento, exaltou o pensamento crítico, cuja expansão atribuiu ao curso realizado na própria FIA Business School. Ela abordou a visão sistêmica e concordou com o professor Marcelo Moraes, do MBA Gestão de Inovação e da Pós-Graduação Sustentabilidade do PROGESA – FIA Business School. Marcelo comentou o nível de exposição a que estamos todos submetidos e a importância da comunicação neste quesito.
De acordo com a CEO da Soul ESG, nem sempre é possível que uma organização produza um Relatório de Sustentabilidade, citando como exemplos as micro e pequenas empresas. No entanto, é imprescindível manter sempre como base a ética e a transparência ao exercer e, consequentemente, comunicar suas ações de sustentabilidade, evitando assim o greenwashing.
A 1ª Jornada de Sustentabilidade reuniu especialistas, profissionais e empresas, que apresentaram suas experiências e visões sobre o futuro da construção sustentável. O evento demonstrou que a sustentabilidade é um tema complexo e multifacetado, que exige uma abordagem integrada e que leve em consideração os aspectos sociais, econômicos e ambientais. As próximas edições da jornada prometem aprofundar ainda mais essa discussão e contribuir para a construção de um futuro mais resiliente para todos.
By Cínthia Ramos
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