É em meio à paz das bucólicas e inspiradoras montanhas de Nova Friburgo, região Serrana do Rio de Janeiro, que Ricardo Graham Ferreira – oEbanista, cria e produz suas peças de maneira artesanal, no tempo humano, no tempo natural das coisas. Do ofício quase extinto, Ricardo aprendeu a trabalhar a madeira de forma quase simbiótica, utilizando técnicas artesanais e tradicionais que aprendeu durante os intensos quatro anos de estudos com mestres ebanistas do sul da França e do norte da Itália.
Anos depois, já com sua carreira consolidada e em movimento constante, nasceu a poltrona Recordar, que surgiu de uma recordação, a recordação de como Ricardo gostaria de fazer braços para uma poltrona. Os braços já existiam antes mesmo da formação dele em marcenaria. “Cunhado pelo tempo e aprendizado de técnicas e de ferramentas eu pude finalmente deixar o que antes era ideia, passar pelas minhas mãos e chegarem nas madeiras” diz Ricardo.
Três matérias-primas – a estrutura de Madeira maciça, o encosto de corda de Rami e o assento estofado de linho – aliadas ao conhecimento e técnica de Ricardo, deram vida à Recordar, que veio também do sentido da lembrança que não se apaga e que permanece viva até que se ganha uma forma real. A palavra Recordar vem de Re-trazer, lembrar e “cor”, coração. O centro da memória.
Perfeita para um bom descanso, a poltrona tem altura exata para o apoio de braços e cotovelos. Os braços curvos da Recordar têm formas orgânicas, livres de partes pontiagudas e que oferecem um apoio anatômico aconchegante. A corda do espaldar é uma surpresa agradável que acolhe graciosamente as costas e conta com uma almofada para a cabeça com altura regulável, atendendo à necessidade de cada pessoa que a utilizar. Já o assento tem uma profundidade e inclinação boas o suficiente para um relaxamento completo do corpo, que permite um levantar sem dificuldade. A expressão das curvas, são para mim, um sentimento muito íntimo e o exercício da marcenaria também passa pelo corpo e pelas mãos. Traduzir essa poética para a madeira é para mim um dos grandes impulsos e desafios”, completa o artista.
Sobre Ricardo Graham Ferrreira- oEbanista
A escolha da Ebanesteria, um ofício quase extinto no mundo contemporâneo, surgiu da paixão de Ricardo pela madeira e suas infinitas possibilidades. O respeito pelo material e o prazer de dar vida aos seus desenhos com suas próprias mãos, utilizando espécies tropicais adquiridas de manejo florestal, ou então trabalhar verdadeiras joias raras que são as madeiras protegidas e até em extinção, mas que chegam até o artista advindas de demolições de casarões antigos ou de outras construções são, sem dúvida, duas de suas maiores satisfações como profissional.
Todo esse ciclo acontece alinhado com um discurso verdadeiro, vivido todos os dias por Ricardo e sua família – que mora a poucos metros de distância da oficina em que trabalha -, através de processos renováveis e sustentáveis, que imprimem um frescor real em um mundo saturado pela urgência do tempo virtual. “O diferencial do meu trabalho é a minha expressão: esta não teve escola. É aí que emprego um conhecimento mais íntimo, onde a individualidade ganha forma: curvas, tons de madeira, encaixes. É uma linguagem, uma comunicação em forma de objeto”, explica.
Alguns itens do seu portfolio já ganharam o mundo pela sua originalidade e linguagem universal, como o banco Sela, famoso pela sua ergonomia perfeita e design ao mesmo tempo robusto e leve. A peça já rodou os quatro cantos do mundo e recebeu importantes prêmios. O mesmo banco é fabricado tanto no seu ateliê como passou a ser produzida pela tradicional movelaria dinamarquesa PP Mobler, conhecida por executar, através de seus “artistas da madeira”, desenhos de Hans J. Wegner, Zaha Hadid, Verner Panton, entre outros, colocando o trabalho de Ricardo ao lado de gigantes do design mundial. Assim como o banco Aragonez do Serrado, outra peça importante da carreira de Ricardo, inspirada no banco trovador, no cerrado brasileiro e na Espanha medieval de Miguel de Cervantes, que é fabricado pela Elon Móveis de Design de Petrópolis, também no Rio de Janeiro. A cadeira 3 Pés, outro destaque de seu acervo, caiu no gosto de colecionadores e apreciadores do bom design.
Ricardo Graham Ferreira – oEbanista
Por Marília Salla
Imagem: Divulgação