Considerada uma das mais antigas manifestações artísticas – afinal, desde a pré-história, há milhares de anos, os homens já “decoravam” suas cavernas com figuras geométricas -, o geometrismo segue em alta na 32ª edição da CASACOR São Paulo não só como um recurso para trazer profundidade ou mudar o formato do ambiente, mas nas padronagens dos acabamentos, objetos decorativos, móveis e tapetes. Além de versátil, sofisticada e contemporânea, a geometria também cria uma atmosfera descontraída, divertida e inspiradora. Veja o que alguns arquitetos trouxeram para a mostra paulista este ano:
Lizandro Piloni usou e abusou da geometria no ambiente “WC no Gender”. O piso de quadradinhos (cerâmico branco 5×5, da Portinari) tem feito sucesso entre os visitantes. A passadeira com listras em preto e branco também compõe a geometria do piso. Nas paredes o tecido geométrico da Entreposto foi utilizado para camuflar as portas das cabines. Faixas coloridas foram criadas com as tintas Coral (Queda Livre, Doce de Tangerina, Bola de Basquete, Praia de Coral e Azul Marinho Vibrante. Ainda com linhas retas, o fraldário ganhou revestimento nas paredes com linhas PB.
No espaço “Casa dos Arcos”, Leo Shehtman, propôs uma revisitação a esse elemento tão característico das construções clássicas – o arco. No ambiente, ele ganha uma conotação quase escultórica. Com presença marcante na arquitetura do local, a forma ainda aparece nos mobiliários, nos detalhes decorativos e até mesmo nos elementos vazados, que transportam de maneira decodificada a paisagem exterior, injetando frescor ao ambiente. Os arcos se repetem nas portas, tapetes, nichos do banheiro, estante em serralheria e nos cobogós. Outro elemento geométrico que Léo usou são as listras, tanto no revestimento de parede que circunda todo o interior “abraçando” o espaço, como nos tapetes dando uma noção óptica de divisão de padronagens, assim como nas almofadas do sofá, que trazem o PB em movimentos nas direções vertical, horizontal e diagonal.
Michel Safatle traz a geometria como forte referência no loft “Eu, Tu, Elas”. No espaço, de 125m², ele apresenta gravuras geométricas pensadas cuidadosamente, como as opções de Julio le Parc, Mondrian e Vassarely.
O ambiente assinado por Érica Salgueiro traz o que há de mais funcional com elegância. Na bancada e volume da parede da cozinha, ela utilizou a superfície de quartzo Silestone na cor branco e os armários ganharam tons de verde musgo. A geometria pode ser percebida na mesa arredonda e no formato quadrado das cadeiras que compõem o “Studio do Executivo”. Já a divisória de vidro transparente canelado, com estrutura em alumínio preto não limita os ambientes, mas traz privacidade nos momentos de descanso. A mesa Jardim assinada pelo designer Jader Almeida no formato retangular pontua a decoração da sala de estar.
Na “Casa da Árvore”, projeto dos profissionais da Suíte Arquitetos, a geometria da casa é revelada por um volume de madeira que sustenta o plano da cobertura e resulta na área social totalmente integrada ao jardim. O sofá modular que leva a assinatura do trio de arquitetos para a Suíte Design, possui estrutura e desenhos retangulares, produzido com tecidos como juta e tear de algodão. Já o quarto, apresenta uma configuração descontruída com o painel de marcenaria em muxarabi, causando a impressão de dissolução à medida que os pequenos quadradinhos revelam a paisagem do jardim por trás do espaço.
Já Gabriel de Lucca, que assina o “Recinto do Bosque”, apostou na solução estética do brise, que possui efeito geométrico e equilibra a incidência de luz natural no ambiente, bem como o conforto térmico. Sobre o mobiliário Baraúna, a delicadeza artesanal da cadeira Maria, foi posicionada próximo ao banco Belmonte, ambos do designer Zanini Caldas.
Na “Galeria de Óculos”, do Estúdio Gaetta, as formas geométricas, em diferentes tamanhos, nascem com o uso das boiseries em boa parte das paredes, emoldurando quadros. As duas tonalidades de tinta também atendem esta temática, preenchendo a dimensão das molduras de boiserie ou repartindo-as em duas metades. Nesse contexto geométrico, figuram, ainda, a luminária Zoom, da FAS Iluminação, criada por Floyd Paxton, e a mesa de centro C41, da Carbono Design, aqui personalizada com dois tampos de mármore Quartzito Silver Dark Escovado: um circular e outro quadrado.
O uso de obras de arte na decoração é um ponto marcante no projeto da Triart Arquitetura. Na “Cozinha Matriz”, o trio usou formas geométricas por meio das esculturas ‘Trapézio’, de Luiz Hermanona, ‘Vulcão Arenal’, de Luiz Hermano e ‘A Cor ao Cubo’, de Claudia Alvarez. Com 40m² e área externa de 21,94 m², os arquitetos se inspiraram em um conceito muito presente na Europa, no qual antigos casarões e galpões são transformados em outros ambientes. Dando novos usos à essas edificações que já não funcionam, os espaços são modificados sem perder a arquitetura original e aparência destroyed.
Assinado pela dupla de arquitetas Andrea Teixeira e Fernanda Negrelli, o “SPA da Mata” possui linhas simples e prolongadas, inteiramente com o toque das profissionais, que realizaram não só o projeto, mas os móveis e cada detalhe do espaço. As formas geométricas estão presentes em diversas áreas, principalmente nos quadros da entrada e na parede das luminárias, onde cada luminária se encaixa perfeitamente no seu nicho, mostrando o detalhe do projeto.
No “Villa Olivo Todeschini”, de João Armentano, as formas geométricas aparecem na saleta que complementa o living, com a tela de Geraldo de Barros, da Zipper Galeria, no dossel da cama, em versão contemporânea, e na estrutura esculpida em Dekton, imitando mármore, que emoldura a banheira de mesmo material na suíte.
“A Casa do Escritor”, ambiente criado pela designer de interiores Jóia Bergamo, apresenta geometria em cada um dos ambientes. No living, a composição de mesinhas laterais e as fotografias conferem uma atmosfera harmônica ao espaço. Na cozinha, a luminária pendente ANWAR por PARACHILNA, do designer americano Stephen Burks, rouba a cena com seus fios e tramas soldados artesanalmente, permitindo a luz e a transparência. A obra de arte, também na cozinha, faz alusão as paredes de tijolinhos aparentes.
No “Banheiro dos Sentidos“, as profissionais da Meyer Cortez Arquitetura & Design, usaram um revestimento geométrico da Mosarte com a intenção de, além de geometrizar o ambiente, imprimir sofisticação. “Trata-se de um espaço de metragem pequena e investir em texturas e formas que causam impacto é sempre uma estratégia que dá certo. Todo mundo nota e já vimos que é o ponto alto entre os visitantes”, contam as arquitetas.
As arquitetas Cyane Zoboli e Ana Elisa Hott, sócias do escritório CZ Hott, assinam o projeto do “Bar Lounge Iulia” e apostaram na ousadia e criatividade para revestir uma das paredes do espaço usando o painel de MDF Rosa Glamour, lançamento da Duratex. Com recortes geométricos, a área ganhou uma sensação de movimento e profundidade.
A geometria também está presente no “Loft LG #amour”, assinado pela designer de interiores Patrícia Hagobian. A concepção do projeto começa na escolha do nome, uma referência ao estilo curvilíneo e arredondado das peças desenhadas, baseadas na forma simbólica do coração. A tela assinada pelo artista Francis Rodrigues é pura cor e geometria. A adega, feita em ferro e o tapete desenhado pela profissional também trazem a geometria em sua composição.
A 32ª edição da CASACOR São Paulo acontece até o dia 29 de julho, no Jockey Club de São Paulo.
Serviço: CASACOR São Paulo
De 22 de maio e 29 de julho
Terça a sábado, das 12h às 21h – Domingo, das 12h às 20h
Jockey Club de São Paulo – Avenida Lineu de Paula Machado, 875
De terça a quinta-feira: Ingresso inteiro: R$ 60/Meia entrada: R$ 30
De sexta a domingo e feriados: Ingresso inteiro: R$ 76/Meia entrada: R$ 38
Passaporte Único: R$ 180
Valet: R$ 35
Sobre a CASACOR
Empresa do Grupo Abril, a CASACOR é reconhecida como a maior e melhor mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo das Américas. O evento reúne anualmente prestigiados arquitetos, decoradores e paisagistas. Em 2018, são 17 praças nacionais: São Paulo, Bahia, Brasília, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina (Florianópolis e Itapema) e, pela primeira vez, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. A mostra acontece ainda em quatro praças internacionais: Bolívia, Estados Unidos, Paraguai e Peru.
Por Renata Maffeis
