Instrumento musical é construído com matéria-prima renovável, sustentável e ecologicamente correta
Em diferentes lugares do mundo, a indústria de instrumentos musicais busca se tornar cada vez mais “verde”. Profissionais e empresas reciclam, reaproveitam e até mudam a matéria-prima usada para fabricar guitarras. No Brasil, isso também é realidade. O luthier e músico acreano Lucas Mortari Montysuma viu a oportunidade de unir a paixão, a habilidade e o recurso natural disponível para criar um negócio local sustentável: a Bravos, uma guitarra de madeira tropical certificada.
No estado do Acre, predomina a Floresta Amazônica. E políticas públicas de conservação e exploração sustentável da floresta tem melhorado a qualidade de vida das comunidades tradicionais e fomentado o crescimento de uma nova economia. Foi neste cenário que o luthier encontrou espaço. Lucas não compra madeira. Como matéria-prima para construir a guitarra, o músico utiliza os resíduos que seriam descartados pela Agrocortex, empresa certificada pelo FSC.
“Por mais que pareça uma ideia rústica para alguns, a guitarra, depois de pronta, nos surpreendeu pela sonoridade e beleza. O nosso produto final tem qualidade e singularidade”, enfatiza Lucas.
O músico explica que o objetivo da Bravos é mostrar que é possível mudar os padrões da indústria de instrumentos. Por isso, o profissional buscou, além de utilizar a matéria-prima certificada, também certificar o próprio produto – a guitarra. “Quando descobri o FSC, percebi que o selo poderia agregar valor aos meus produtos, tanto no mercado nacional quanto internacional”, conta Lucas, que acabou de receber o selo.
A certificadora responsável foi o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e a SR4 Soluções em Certificação Florestal foi a consultoria que ajudou na adequação do processo de fabricação. “Apoiamos toda a cadeia da madeira, de forma que iniciativas como essa possam agregar valor ao manejo florestal comunitário e consequentemente, à floresta comunitária em pé”, comenta André Silveira Rosa, idealizador da SR4.
Para Aline Tristão, diretora geral do FSC® Brasil, esse tipo de trabalho, que utiliza matéria-prima de baixo impacto ambiental, precisa ser estimulada. “A guitarra Bravos valoriza a madeira nativa e mostra que o manejo florestal responsável contribui para o desenvolvimento da região”, acredita.
Rafael Brevegliero, especialista em certificação FSC®, que fez a auditoria na empresa de Lucas, conta que o Imaflora usou recursos do seu Fundo Social (mecanismo criado para diminuir a distância dos pequenos ao sistema de certificação) e bancou o custo da primeira avaliação do empreendimento. “Topamos o desafio. Não importa a escala da empresa, valorizar o produto do manejo florestal é contribuir para conservar a cobertura vegetal, para o uso racional dos recursos naturais, entre outros quesitos verificados nas auditorias. O fato da Agrocortex também ter o selo FSC® evidencia para o consumidor a responsabilidade com a floresta desde o início da cadeia”, comenta Brevegliero.
Em 2018, o profissional participou da Feira de música NAMM em São Paulo e mostrou a Bravos para o mercado. Durante a feira, o profissional recebeu o convite para expor na edição da feira em Orlando. Segundo o músico, há muito espaço para crescer no mercado de instrumentos de madeira e a certificação do FSC dá vantagem para o produto brasileiro. “Queremos crescer e exportar as nossas gritarras”, diz.
O instrumento artesanal demora, em média, duas semanas passa ser construído, pois tudo é feito a mão e não há linha de produção. O nome Bravos é uma homenagem às tribos indígenas que vivem isoladas no Acre.
Além de ajudar a proteger a Amazônia, a iniciativa oferece uma opção sustentável para os músicos. Os preços das guitarras começam em R$3.500,00, dependendo das peças e do acabamento utilizado.
Sobre o FSC Brasil
É uma organização independente, não governamental, sem fins lucrativos, que promove o manejo florestal responsável ao redor do mundo desde 1994. Com sede na Alemanha, está presente em mais de 80 países. O FSC é o sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional e o único que incorpora, de forma igualitária, os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos.
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Por Camila Rodrigues – GWA
Imagem: Divulgação