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Arquiteta catarinense Juliana Pippi assina a sala íntima Toki na CASACOR SP

Sala íntima Toki – Um mergulho no meu tempo destaca a estreia da catarinense Juliana Pippi, um dos nomes mais pulsantes da nova geração da arquitetura nacional, na edição paulista da Casa Cor

“És um senhor tão bonito/Quanto a cara do meu filho/ Tempo, tempo, tempo, tempo…/ És um dos deuses mais lindos.” Os versos de Caetano Veloso em sua “Oração ao Tempo” embalam a verve criativa de uma das profissionais mais atuantes do panorama arquitetônico no Brasil. E foi o próprio tempo, senhor de todas as coisas – e autenticador de todas as qualidades – quem se encarregou de trazer Juliana Pippi a essa estreia na matriz da Casa Cor, que chega à sua 32ª edição mais plural do que nunca.
Antes de aterrisar na maior mostra de decoração das Américas, a estrela da franquia de sua Floripa Natal (Juliana foi premiada quatro vezes como melhor ambiente da edição regional) cresceu, amadureceu e viu a carreira romper fronteiras com os mesmos passos apressados que a colocaram entre os bambas da nova geração, com congratulações até nos EUA e na Itália. A sala intimista que materializa a reconexão com o tempo – e com nós mesmos – é a proposta da arquiteta que fez uma leitura panorâmica tanto do tempo enquanto passagem cronológica, quanto da metáfora de seu aproveitamento e da angústia pela sua falta.
“São Paulo, que é um dos maiores estandartes da vida apressada na megalópole, para mim, enquanto forasteira, é o contrário: uma desaceleração. Venho sempre para cá para dar uma pausa, me abastecer de referências e absorver as novidades culturais”, diz. Batizada de Toki – Um Mergulho no meu Tempo, Juliana imaginou um pequeno cubo de 40 metros quadrados como zona de contenção, calmaria, equilíbrio e recarga, onde leveza e frescor imprimem as maiores notas por meio de paleta suave, tons esmaecidos, texturas aconchegantes e um forte apelo craft na seleção de superfícies e acessórios.
As paredes, por exemplo, se harmonizam entre a composição da cerâmica assinada pela artista Hideko Honma para a Portobello, as áreas de lona crua, e os encapsulamentos com telas bem fininhas em performance quase de papel-arroz, vendendo a ideia de flutuação desde o piso em mood sépia até alcançar o teto em carvalho estonado, levemente rosado, de onde pende uma escultura deslumbrante da artista Clara Fernandes.
Entre ampulhetas e composições transadas de arranjos naturais, a seleção do mobiliário e dos acessórios também confronta timings diferentes, numa narrativa cheia de lógica para a arquiteta que também é musicista e apostou nos versos de Arnaldo Antunes para a trilha: “Será que a cabeça tem o mesmo tempo que a mão? O tempo do pensamento, da ação?”. Assim, o dito slow design, em peças desenvolvidas ou customizadas especialmente para seu espaço, ofício que demanda longos períodos de feitura entre os dedos (como o banco e a cestaria de Inês Schertel, a luminária de Ana Neute, o banco e os painéis de Domingos Tótora), faz match com o high design em escalas industriais, com seus prazos mais objetivos em previsões instantâneas (visto nas criações de Jader Almeida para a Sollos Brasil, além das peças para a Saccaro e Dpot Objetos).
Nessa mistura fina, a arte também abarca saberes atemporais. As meticulosas casinhas de mármore do escultor Dan Fialdini, nas versões suspensa e de mesa, arrematam o cenário de fotografias (para Juliana, “a arte do tempo congelado”) assinadas por Denilson Machado, Kiolo e Felipe Morozini, além do trabalho de Walmor Corrêa.
Entre transparências e furtacores, o ponto de exclamação é o sofá, que ganhou índigo em tie-dye, técnica oriental milenar (também conhecida como shibori no Japão) que descolore os tecidos em manchas abstratas. E, para acentuar essa autoria handmade, a própria Juliana desenhou o tapete em tear, executado pela By Kamy, quase como um manifesto das reconexões com a casa, com a vida e consigo próprio, de dentro para fora e de fora para dentro. “Todo o layout é voltado para a janela, para descansar a vista e direcionar o olhar para o mundo – e para o tempo – que nos espera”, finaliza, evocando outro verso “caetânico”: “Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso, quando o tempo for propício/Apenas contigo e comigo/Tempo, tempo, tempo, tempo”.
Por Luciana de Moraes

Imagens: Denilson Machado

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